Exercícios sobre romantismo

Resolva esta lista de exercícios sobre romantismo e teste seus conhecimentos sobre esse estilo de época que apresenta temática nacionalista, ultrarromântica e social.

Publicado por: Warley Souza

Questões

  1. Questão 1

    (Enem)

    Capítulo LIV — A pêndula

    Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim:

    — Outra de menos...

    — Outra de menos...

    — Outra de menos...

    — Outra de menos...

    O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.

    Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.

    ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).

    O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque

    A) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros.

    B) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo.

    C) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas.

    D) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas.

    E) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.

  2. Questão 2

    (Enem)

    Leito de folhas verdes

    Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
    Correm perfumes no correr da brisa,
    A cujo influxo mágico respira-se
    Um quebranto de amor, melhor que a vida!

    A flor que desabrocha ao romper d’alva
    Um só giro do sol, não mais, vegeta:
    Eu sou aquela flor que espero ainda
    Doce raio do sol que me dê vida.

    DIAS, G. Antologia poética. Rio de Janeiro: Agir, 1979 (fragmento).

    Na perspectiva do Romantismo, a representação feminina espelha concepções expressas no poema pela

    A) reprodução de estereótipos sociais e de gênero.

    B) presença de traços marcadores de nacionalidade.

    C) sublimação do desejo por meio da espiritualização.

    D) correlação feita entre estados emocionais e natureza.

    E) mudança de paradigmas relacionados à sensibilidade.

  3. Questão 3

    (Enem)

    Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua vontade, do que a velha parenta.

    ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.

    O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875. No fragmento transcrito, a presença de D. Firmina Mascarenhas como “parenta” de Aurélia Camargo assimila práticas e convenções sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois

    A) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar a condição feminina na sociedade brasileira da época.

    B) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos sociais no enredo de seu romance.

    C) as características da sociedade em que Aurélia vivia são remodeladas na imaginação do narrador romântico.

    D) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da mulher, financeiramente independente.

    E) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito avançados para a sociedade daquele período histórico.

  4. Questão 4

    (Enem)

    Em 1866, tendo encerrado seus estudos na Escola de Belas Artes, em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador Pedro II, em reconhecimento ao seu mecenas. O nu feminino obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser uma alegoria feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por imoral e licenciosa: mesmo não fugindo à regra oitocentista relativa à nudez na obra de arte, A Carioca não pôde, portanto, ser absorvida de imediato. A sensualidade tangível da figura feminina, próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não somente com os limites morais, mas também com a orientação estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal ou um nu tão descolado do que se desejava como nudez nacional aceitável, por exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto — uma beleza imaterial — e o baixo — uma carnalidade excessiva. Sugeria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório simbólico oficial. A exótica morena, que não é índia — nem mulata ou negra — poderia representar uma visualidade feminina brasileira e desfrutar de um lugar de destaque no imaginário da nossa “monarquia tropical”?

    OLIVEIRA, C. Disponível em: http://anpuh.org.br. Acesso em: 20 maio 2015.

    O texto revela que a aceitação da representação do belo na obra de arte está condicionada à

    A) incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, conferindo legitimidade ao trabalho do artista.

    B) atemporalidade do tema abordado pelo artista, garantindo perenidade ao objeto de arte então elaborado.

    C) inserção da produção artística em um projeto estético e ideológico determinado por fatores externos.

    D) apropriação que o pintor faz dos grandes temas universais já recorrentes em uma vertente artística.

    E) assimilação de técnicas e recursos já utilizados por movimentos anteriores que trataram da temática.

  5. Questão 5

    (Enem)

    Soneto

    Oh! Páginas da vida que eu amava,
    Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
    Ardei, lembranças doces do passado!
    Quero rir-me de tudo que eu amava!

    E que doido que eu fui! como eu pensava
    Em mãe, amor de irmã! em sossegado
    Adormecer na vida acalentado
    Pelos lábios que eu tímido beijava!

    Embora — é meu destino. Em treva densa
    Dentro do peito a existência finda
    Pressinto a morte na fatal doença!

    A mim a solidão da noite infinda!
    Possa dormir o trovador sem crença.
    Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!

    AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

    A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com o(a)

    A) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico.

    B) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã.

    C) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica.

    D) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir.

    E) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.

  6. Questão 6

    (Enem)

    Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indômito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção:

    — Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.

    GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.

    O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a

    A) referência a elementos da natureza local.

    B) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.

    C) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.

    D) representação idealizada do cenário descrito.

    E) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.

  7. Questão 7

    (Enem)

    — Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não fosse minha mãe. Meu primeiro beijo de amor, guardei-o para minha esposa, para ti...

    [...]

    — Ou de outra mais rica! — disse ela, retraindo-se para fugir ao beijo do marido, e afastando-o com a ponta dos dedos.

    A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.

    — Aurélia! Que significa isto?

    — Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.

    — Vendido! — exclamou Seixas ferido dentro d’alma.

    — Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.

    ALENCAR, J. Senhora. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 2003.

    Ao tematizar o casamento, esse fragmento reproduz uma concepção de literatura romântica evidenciada na

    A) defesa da igualdade de gêneros.

    B) importância atribuída à castidade.

    C) indignação com as injustiças sociais.

    D) interferência da riqueza sobre o amor.

    E) valorização das relações interpessoais.

  8. Questão 8

    (Ufla)

    A minha esteira

    Aqui do vale respirando à sombra
    Passo cantando a mocidade inteira...
    Escuto no arvoredo os passarinhos
    e durmo venturoso em minha esteira. 

    Respiro o vento, e vivo de perfumes
    No murmúrio das folhas da mangueira;
    Nas noites de luar aqui descanso
    E a lua enche de amor a minha esteira.

    Aqui mais bela junto a mim se deita
    Cantando a minha amante feiticeira;
    Sou feliz como as ternas andorinhas
    E meu leito de amor é minha esteira!

    Nem o árabe Califa, adormecendo
    Nos braços voluptuosos da estrangeira,
    Foi no amor da Sultana mais ditoso
    Que o poeta que sonha em sua esteira!

    Aqui no vale respirando à sombra
    Passo cantando a mocidade inteira;
    Vivo de amores; morrerei sonhando
    estendido ao luar na minha esteira!

    AZEVEDO, Álvares de. Melhores poemas (seleção de Antonio Candido). Rio de Janeiro: Global, 2013.

    A relação do “eu lírico” com a paisagem, no poema, revela:

    A) a busca, na natureza, de um estado da alma.

    B) o pitoresco nativismo da escola romântica.

    C) o refúgio para lugares estrangeiros.

    D) a simplicidade de um lugar pobre.

  9. Questão 9

    (Ufla) Nas diferentes épocas da literatura, a natureza é vista de forma distinta pelos escritores. No Romantismo, ela

    A) adquire especial significado; às vezes, com papel ativo nas composições.

    B) é mais importante que o elemento humano, sendo, na maioria das vezes, cientificamente estudada pelo homem.

    C) tem importância relativa, servindo apenas como cenário para as relações humanas.

    D) conduz o indivíduo na busca por sua realização, sendo vista como a solução dos problemas existenciais.

  10. Questão 10

    (Ufla)

    Quando Isabella Swan se muda para a melancólica cidade de Forks e conhece o misterioso e atraente Edward Cullen, sua vida dá uma guinada emocionante e apavorante. Com corpo de atleta, olhos dourados, voz hipnótica e dons sobrenaturais, Edward é ao mesmo tempo irresistível e impenetrável. Até então, ele tem conseguido ocultar sua verdadeira identidade, mas Bella está decidida a descobrir seu segredo sombrio.

    O que Bella não percebe é que quanto mais se aproxima dele, maior é o perigo para si e para os que a cercam. E pode ser tarde demais para voltar atrás...

    (Fragmento)

    Assim que ficamos a sós, ele me girou nos braços e me carregou para o terreno escuro até chegar ao banco nas sombras da árvore. Ele sentou ali, mantendo-me aninhada em seu peito. A lua já estava alta, visível através das nuvens diáfanas, e seu rosto reluzia pálido na luz branca. Sua boca estava contraída, os olhos perturbados.

    — O crepúsculo, de novo — murmurou ele. — Outro fim. Mesmo que o dia seja perfeito, sempre tem um fim.

    — Algumas coisas não precisam terminar — sussurrei, tensa de imediato.

    Ele suspirou.

    — Eu a trouxe ao baile porque não quero que perca nada. Não quero que minha presença subtraia nada de você, se eu puder evitar. Quero que você seja humana. Quero que sua vida continue como aconteceria se eu não tivesse morrido em 1918 como morri.

    Eu estremeci com suas palavras e sacudi a cabeça com raiva.

    — Em que estranha dimensão paralela eu um dia iria a um baile por minha própria vontade?

    Ficamos em silêncio por um minuto, ele olhando a lua e eu olhando para ele. Eu queria ter uma forma de explicar o quanto estava desinteressada em uma vida humana normal.

    Stephenie Meyer. Crepúsculo (Com adaptações).

    Considerando a frase O texto romântico expressa a dimensão do amor cuja força pode superar a própria morte”, a alternativa que expressa essa afirmação é:

    A) “— Outro fim. Mesmo que o dia seja perfeito, sempre tem um fim.”

    B) “— Em que estranha dimensão paralela eu um dia iria a um baile...”

    C) “Quero que sua vida continue como aconteceria se eu não tivesse morrido em 1918 como morri.”

    D) “— Eu queria ter uma forma de explicar o quanto estava desinteressada em uma vida humana normal.”

  11. Questão 11

    (Ufla) Sobre o movimento romântico brasileiro, é INCORRETO afirmar que

    A) o romancista procura valorizar as nossas origens. Há a transformação das personagens em heróis, que apresentam traços do caráter do bom selvagem: valentia, nobreza, brio.

    B) a arte romântica vê o homem como produto do meio em que vive: a raça, o meio e o momento histórico (nacionalismo).

    C) os primeiros poetas românticos foram marcados pelo predomínio do nacionalismo, do patriotismo e da ênfase à natureza brasileira.

    D) houve um momento, extremamente subjetivista, centrado na temática do AMOR e da MORTE, da DÚVIDA, do TÉDIO, da IRONIA.

  12. Questão 12

    (Uefs)

    Minha desgraça

    Minha desgraça, não, não é ser poeta,
    Nem na terra de amor não ter um eco,
    E meu anjo de Deus, o meu planeta
    Tratar-me como trata-se um boneco...

    Não é andar de cotovelos rotos,
    Ter duro como pedra o travesseiro...
    Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
    Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...

    Minha desgraça, ó cândida donzela,
    O que faz que o meu peito assim blasfema,
    É ter para escrever todo um poema,
    E não ter um vintém para uma vela.

    AZEVEDO, Álvares de. Minha desgraça. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 194. (Coleção Grandes Leituras).

    Indique V ou F, conforme seja o item verdadeiro ou falso.

    O poema revela

    (  ) um eu comandado pelo racionalismo.

    (  ) o humor como artifício de ocultamento de um drama.

    (  ) o sentimento irônico em face dos limites da vida prática.

    (  ) a indignação romântica contra a realidade material da vida.

    A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

    A) F V V V

    B) F V V F

    C) V F F V

    D) V F V F

    E) V V V V

  13. Questão 13

    (Unesp)

    Fragmento de Glória moribunda, do poeta romântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852).

    É uma visão medonha uma caveira?
    Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
    Foi a cabeça ardente de um poeta,
    Outrora à sombra dos cabelos loiros.
    Quando o reflexo do viver fogoso
    Ali dentro animava o pensamento,
    Esta fronte era bela. Aqui nas faces
    Formosa palidez cobria o rosto;
    Nessas órbitas — ocas, denegridas! —
    Como era puro seu olhar sombrio!

    Agora tudo é cinza. Resta apenas
    A caveira que a alma em si guardava,
    Como a concha no mar encerra a pérola,
    Como a caçoula a mirra incandescente.

    Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
    Por que repugnas levantá-la agora?
    Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
    Quanta vida ali dentro fermentava,
    Como a seiva nos ramos do arvoredo!
    E a sede em fogo das ideias vivas
    Onde está? onde foi? Essa alma errante
    Que um dia no viver passou cantando,
    Como canta na treva um vagabundo,
    Perdeu-se acaso no sombrio vento,
    Como noturna lâmpada apagou-se?
    E a centelha da vida, o eletrismo
    Que as fibras tremulantes agitava
    Morreu para animar futuras vidas?

    Sorris? eu sou um louco. As utopias,
    Os sonhos da ciência nada valem.
    A vida é um escárnio sem sentido,
    Comédia infame que ensanguenta o lodo.
    Há talvez um segredo que ela esconde;
    Mas esse a morte o sabe e o não revela.
    Os túmulos são mudos como o vácuo.
    Desde a primeira dor sobre um cadáver,
    Quando a primeira mãe entre soluços
    Do filho morto os membros apertava
    Ao ofegante seio, o peito humano
    Caiu tremendo interrogando o túmulo...
    E a terra sepulcral não respondia.

    Poesias completas, 1962.

    Do segundo ao último verso da primeira estrofe do poema, revelam-se características marcantes do Romantismo:

    A) conteúdos e desenvolvimentos bucólicos.

    B) subjetivismo e imaginação criadora.

    C) submissão do discurso poético à musicalidade pura.

    D) observação e descrição meticulosa da realidade.

    E) concepção determinista e mecanicista da natureza.

  14. Questão 14

    (Unimontes)

    São uns olhos verdes, verdes,
    Uns olhos de verde-mar.
    Quando o tempo vai bonança;
    Uns olhos cor de esperança.
    Uns olhos por que morri;
    Que ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    Como duas esmeraldas,
    Iguais na forma e na cor,
    Tem luz mais branda e mais forte,
    Diz uma — vida, outra — morte;
    Uma — loucura, outra — amor.
    Mas ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    São verdes da cor do prado,
    Exprimem qualquer paixão,
    Tão meigamente derramam
    Tão facilmente se inflamam
    Fogo e luz do coração;
    Mas ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    DIAS, 2001, p. 121.

    Faça uma leitura interpretativa do fragmento de texto retirado do poema “Olhos verdes”, de Gonçalves Dias, e assinale a alternativa que está INCORRETA.

    A) Essas estrofes expressam um tom mórbido dos poetas da última geração romântica no Brasil.

    B) A melodia é elemento recorrente na lírica romântica e está presente nas estrofes acima através das rimas, da aliteração e da assonância em alguns versos e do uso do refrão.

    C) O eu lírico projeta na natureza um sentimento amoroso, de forma que os “olhos verdes” da amada se transformam na cor do mar, das esmeraldas e dos prados.

    D) O poema exprime um tom que permite ao leitor capturar sugestivamente a atmosfera lírica do poema.

  15. Questão 15

    (Unimontes) Leia com atenção o trecho extraído de A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito da obra.

    Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. [...] Os encantos da gentil cantora eram ainda realçados pela singeleza, e diremos quase pobreza, do modesto trajar.

    GUIMARÃES, 2002, p. 19.

    A) O trecho ilustra a característica romântica de exaltação da mulher, por meio de descrições minuciosas que destacam a beleza física.

    B) O retrato de mulher apresentado no início do livro corresponde ao projeto ideológico manifestado pelo autor de valorização da beleza e da cultura negras.

    C) O trecho evidencia o caráter subjetivo do romance romântico, em que se destacam as impressões pessoais do narrador e o excesso de adjetivos.

    D) O retrato de mulher apresentado no trecho representa os ideais românticos de beleza feminina, que dá ênfase à beleza frágil e contemplativa.

  16. Questão 16

    Todas as características abaixo fazem referência ao romantismo brasileiro, EXCETO:

    A) Idealização da figura masculina, em que o homem é visto como objeto de desejo.

    B) Caráter indianista, em que o guerreiro indígena é tratado como herói nacional.

    C) Aspecto ultrarromântico, em que temáticas como amor e morte são recorrentes.

    D) Caráter social e abolicionista, em que a escravidão é liricamente criticada.

    E) Visão regionalista, em que o homem do campo assume o protagonismo.

  17. Questão 17

    (Unimontes) Leia os fragmentos a seguir, extraídos de “O navio negreiro” e “A canção do africano”, respectivamente:

    Texto I

    Senhor Deus dos desgraçados!
    Dizei-me vós, Senhor Deus,
    Se eu deliro... ou se é verdade
    Tanto horror perante os céus?!...
    Ó mar, por que não apagas
    Co’a esponja de tuas vaga
    Do teu manto este borrão?
    Astros! noites! tempestades!
    Rolai das imensidades!
    Varrei os mares, tufão!...

    ALVES, 2007, p. 16.

    Texto II

    Lá na úmida senzala,
    Sentado na estreita sala,
    Junto ao braseiro, no chão,
    Entoa o escravo o seu canto,
    E ao cantar correm-lhe em pranto
    Saudades do seu torrão...

    De um lado, uma negra escrava
    Os olhos no filho crava,
    Que tem no colo a embalar...
    E à meia voz lá responde
    Ao canto, e o filhinho esconde,
    Talvez pra não o escutar!

    ALVES, 2007, p. 29.

    Em relação aos poemas “O navio negreiro” e “A canção do africano”, de Castro Alves, todas as características abaixo são corretas, EXCETO

    A) Intensa preocupação político-social.

    B) Textos comprometidos com a situação histórica do Brasil.

    C) Nacionalismo; atração pela morte e pela noite.

    D) Expressões de um Romantismo engajado.

  18. Questão 18

    (Unimontes) Leia com atenção o trecho retirado do romance A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo:

    “Nessa noite fui para o superior; eu ia entabular um namoro romântico, e não podia ser de outro modo. Para ser tudo à romântica, consegui entrar antes de todos; fui o primeiro a sentar-me; ainda o lustre monstro não estava aceso; vi-o descer e subir depois, brilhante de luzes; vi se irem enchendo os camarotes; finalmente eu, que tinha estado no vácuo, achei-me no mundo: o teatro estava cheio. Consultei com meus botões como devia principiar e concluí que para portar-me romanticamente deveria namorar alguma moça que estivesse na quarta ordem. Levantei os olhos, vi uma que olhava para o meu lado, e então pensei comigo mesmo: seja aquela!... Não sei se é bonita ou feia, mas que importa? Um romântico não cura dessas futilidades. Tirei, pois, da casaca o meu lenço branco, para fingir que enxugava o suor, abanar-me e enfim fazer todas essas macaquices que eu ainda ignorava que estavam condenadas pelo romantismo. Porém, o infortúnio!... quando de novo olhei para o camarote, a moça se tinha voltado completamente para a tribuna; tossi, tomei tabaco, assoei-me, espirrei e a pequena... nem caso; parecia que o negócio com ela não era. Começou a ouverture... nada; levantou-se o pano, ela voltou os olhos para a cena, sem olhar para o meu lado”.

    Disponível em: bjdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/a_moreninha.pdf. Acesso em: 10 dez. 2017.

    No trecho, lemos várias vezes as palavras “romântico”, “romantismo” e “romanticamente”. Sobre os termos usados e a leitura da obra na íntegra, pode-se concluir que

    A) os termos expressam a escola literária a que se filia o romance A moreninha.

    B) os termos evidenciam uma ironia do autor em relação ao estado apaixonado do personagem.

    C) os termos fazem alusão a uma atitude enamorada, dedicada e apaixonada.

    D) os termos propagam a nova forma de escrita que nasce na França e faz escola no Brasil.

  19. Questão 19

    (Unimontes) Leia com atenção o fragmento retirado do poema “O navio negreiro”, de Castro Alves.

    IV

    Era um sonho dantesco... o tombadilho
    Que das luzernas avermelha o brilho
    Em sangue a se banhar.
    Tinir de ferros... estalar de açoite...
    Legiões de homens negros como a noite,
    Horrendos a dançar...

    Negras mulheres sacudindo às tetas
    Magras crianças, cujas bocas pretas
    Rega o sangue das mães:
    Outras moças, mas nuas e espantadas,
    No turbilhão de espectros arrastadas,
    Em ânsia e mágoa vãs!

    E ri-se a orquestra irônica... estridente...
    E da ronda fantástica a serpente
    Faz doidas espirais
    Se o velho arqueja, se no chão resvala,
    Ouvem-se gritos... o chicote estala
    E voam mais e mais...
    [...]

    ALVES, 2007, p. 14

    Assinale a alternativa INCORRETA.

    A) O poema usa elementos que remetem à atmosfera do inferno para evocar o sofrimento do escravo.

    B) Os versos estão em sintonia com o condoreirismo romântico, povoado de imagens grandiloquentes, que expressam a indignação do eu lírico.

    C) O poema apresenta, em tom racional e comedido, a visão abolicionista e engajada do eu lírico.

    D) As imagens apresentadas, bem como a sequência de verbos, transmitem movimento e horror na atmosfera do navio negreiro.

  20. Questão 20

    O romance indianista do romantismo brasileiro apresenta a seguinte característica:

    A) Caráter urbano.

    B) Vassalagem amorosa.

    C) Caráter puramente regionalista.

    D) Ironia.

    E) Tema do adultério.